sábado, 22 de agosto de 2009

Ficção


Na semana que passou, foi divulgado o trailer de um novo filme nacional, que estreiará em outubro. Ele se chama "Salve Geral" e é baseado nos ataques criminosos que ocorreram no estado de São Paulo, entre maio e julho de 2006. E, como ocorreu a exaustão nesses ataques, não poderia faltar a cena de um ônibus incendiado.

O veículo utilizado no filme era um Mercedes Benz Monobloco O371U, prefixo 11156, fabricado no começo da década de 90. Esse veículo foi comprado, na mesma época, pela então Compania Municipal de Transportes Coletivos, a CMTC, pertencente à Prefeitura de São Paulo. Mas ele veio com uma novidade: era movido a gás natural, um combustível ecologicamente correto. Na época, era uma tecnologia nova e a intenção era, futuramente, implantá-la em todos os ônibus da cidade. Por ser uma tecnologia nova, e cara, somente a prefeitura encampou a idéia.
Quatro anos depois, em 1994, as linhas da CMTC foram privatizadas. Uma cooperativa de ex-funcionários da CMTC, a CCTC (Cooperativa Comunitária de Transportes Coletivos), ganhou uma das licitações e o direito de operar o lote 66. Nesse lote, estavam incluídas as linhas dos ônibus movidos a gás. Sem frota própria, a CCTC usou os próprios veículos da CMTC para operar as linhas que conquistou.

Mais quatro anos se passaram e, em 1998, a CCTC comprou veículos zero km. Alguns deles eram movidos a gás. Além dela, as viações Gatusa e Santa Madalena também investiram em veículos com essa tecnologia. Outras empresas chegaram a comprar ônibus movidos a gás antes de 1998, mas não foram tão significativas quanto esta compra, que chegou a quase oitenta veículos ao todo. Nessa época, prometeu-se tornar o gás natural combustível oficial da frota de ônibus paulistana a médio prazo. Mas ficou só na promessa...
Em 2002 a CCTC já estava fechada e praticamente todos os veículos a gás da Gatusa e da Santa
Madalena já estavam convertidos a diesel. Com o fechamento da CCTC, o 11156 e seus irmãos a gás da antiga CMTC, foram abandonados ao tempo e ao vento em algum páteo da antiga empresa pública. Os outros veículos, foram convertidos a diesel e vendidos (alguns ainda rodam em Curitiba). Curiosamente, foi nessa época que começou-se a converter os carros de passeio para rodar usando o gás natural.

Em 2004, ocorreu a licitação que escolheu as atuais operadoras privadas do sistema de transporte paulistano. Daquela época até hoje, somente dois veículos movidos a gás foram adquiridos. Ambos são da empresa Sambaíba, que opera a atual área 2. Fora esses, mais nenhum ônibus movido a gás roda em São Paulo.

Além do gás natural, outros investimentos em combustíveis ecologicamente corretos também não tiveram um final feliz em nossa cidade... Os ônibus híbridos não tiveram sequência... Os trólebus tiveram a maior parte de sua rede desativada e os veículos substituidos por outros a diesel. As redes que ficaram são modernizadas a passos de tartaruga e os novos veículos são entregues aos poucos... E o biodiesel ainda não pegou...

Em 2008, a prefeitura de São Paulo começou a leiloar as "sobras" da antiga CMTC. Entre as "sobras", estava o 11156. Ele foi arrematado e alguém o levou às telas de cinema... Onde ele virou obra de ficção... Assim como todo o dinheiro investido nessas experiências, que sempre param no meio do caminho...

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