Há dez meses voltei a morar em São Paulo. E voltei a morar justamente no Jardim Aeroporto, bairro onde passei praticamente toda a minha infância... E da onde minha família partiu, em 1987, quando eu tinha 12 anos.
O local onde estou hoje fica a duas quadras do colégio onde estudei, o Ministro Calógeras. Nesse colégio, estudei do pré-primário à quinta série... Infelizmente, em boa parte desse período, não tive muitas lembranças boas. Nessa época, fui vítima do que hoje é chamado bullying - uma zombaria sem motivos... Apesar dos tempos difíceis, tive também bons momentos: consegui fazer amigos, conheci meu primeiro amor, tive professores inesquecíveis... Enfim, pessoas e acontecimentos que muito contribuiram para o que eu sou hoje.
No final de junho passado, houve uma festa junina no colégio. Como havia muito tempo que não entrava lá, resolvi prestigiar a festa. Nos anos em que estudei lá, entre as alas, haviam pequenos jardins... Não haviam portas nem grades entre as alas, com exceção dos acessos à biblioteca e à sala de música. De resto, era um lugar com um visual agradável, claro que com seus problemas, mas que transpirava liberdade.
Já hoje, o aspecto do colégio, visto pelo lado de fora, não é dos mais amigáveis... Os muros baixos e "vazados" do passado foram substituidos por muros altos, com "pontas" por cima, em alguns pontos... Muito cimento e poucas plantas... Por dentro, a coisa é pior... No final das escadas, que dão acesso às salas de aula do piso superior, haviam verdadeiros portões de ferro. Onde estavam os pequenos jardins havia uma pilha de cadeiras quebradas - sobre um piso de cimento... Alguns acessos foram fechados... O visual de liberdade ficou no passado... Decepcionado e triste com péssimo estado do colégio, fui embora...
Infelizmente, a realidade do Calógeras é só mais uma face da nossa péssima estrutura educacional. O poder público sempre procura dizer que está melhorando a qualidade do ensino público... Mas isso tem de incluir também o local onde o ensino é feito. Que vontade vai ter um aluno de ir ao colégio, se o local mais parece um presídio? Que vontade vai ter o aluno de ir ao colégio, se só o aspecto do local dá medo? Se o problema é o vandalismo, por que, ao invés de grades, não aumentar o efetivo da Guarda Municipal, cuja obrigação é justamente proteger os próprios públicos?
Educação não é só construir colégios, aumentar o número de horas de aula ou aumentar o número de professores... É preciso pensar em toda a estrutura que dê ao aluno vontade de ir e ficar no colégio. Se ele não for motivado a estar lá, podem colocar alunos em tempo integral, com dez professores, que ele não se sentirá a vontade e não vai aprender nada. Só vai pensar em voltar pra casa. Grades só motivam quem quer passar por elas...
Adorei o relato! Uma visão particular do uso do espaço urbano.
ResponderExcluirBjs!
Mary
P.S: é bullying
Obrigado, Mary. Já fiz a correção. Qualquer outro erro, é só postar.
ResponderExcluirUm abraço!