segunda-feira, 27 de outubro de 2014

CTB-SAO: O tio e seu rádio...


Deixamos Curitiba no ônibus das 13h. Linha Curitiba-São Paulo em um ônibus da Viação Itapemirim. O ônibus saiu um pouco atrasado. Logo atrás, saia o das 13h15. Pensava eu que um horário era direto e o outro era via Rodoanel. Mas não. O das 13h também era via Rodoanel. O curioso é que o horário seguinte, da Viação Cometa, também tem uma seguidinha: 14h e 14h15. Enfim...

Eu entrei, ajeitei minha mala e minha mochila no porta pacotes e sentei em minha poltrona. Como demorou a chegar alguém, achei que não viajaria ninguém ao meu lado. Mas, por último, entrou um policial. Ele se acomodou no assento ao meu lado e, sem cerimônia, reclinou o seu banco e descansou...

E começa a viagem... Ela prometia ser tranquila. Uns conversando com o companheiro da poltrona ao lado. Outros ouvindo música. E outros pensando na vida... E, como eu, admirando a paisagem e pensando na vida... Até que... Um celular... Eis que um senhorzinho no banco da frente liga o mp3 de seu celular. As músicas? Pra quem pensou em funk, negativo. Era sertanejo... baião... forró... Enfim, um gosto melhor... Mas parecia que eu teria de aguentar isso por seis horas. Isso seria dureza...

Começava uma música... Ouvia na boa, conversando com um senhor ao lado dele. Terminava a música, ele selecionava a outra. “Não, não gostei”, deveria pensar ele, que mudava de música. E mudava de novo. E de novo. Ouvia. Mudava. E mudava de novo. De novo. E de novo. Haja paciência. E ninguém reclamava. Mas vi que alguns passageiros que, como eu, gostavam de estarem sendo obrigados a acompanhar o gosto e as mudanças de gosto musical do tiozinho. Mas ninguém abria a boca. Vi uma moça ao banheiro com seus fones de ouvido. Pessoas que respeitavam a coletividade. Diferente daquele senhor que, além de mal educado, era indeciso.

Com uns 40min de viagem, pedi licença ao policial e fui ao banheiro, indignado. Mas, na volta, resolvi ir até o senhorzinho e pedir que, ao menos, ele abaixasse o volume do seu celular. Cheguei a ele e pedi:
- O senhor poderia, pelo menos, abaixar o volume...
Eu nem terminei de falar e ele já me cortou.
- Não. Não vou desligar. Se quiser, reclame com o motorista.

Fiquei mais indignado ainda. Mas, não tinha jeito. Resolvi ir até o motorista... Parecia coisa de criança mas, convenhamos, era melhor do que ser obrigado a acompanhar essa música por sete horas. Quando toquei na maçaneta, ouço:
- Espere!

Era o policial. Ele resolveu ir até o senhor e explicou:
- Senhor, há uma lei que proíbe...

O senhor nem o deixou terminar e disse:
- Pode deixar, pro senhor, eu desligo.
E ele desligou mesmo...

Sem mais, voltamos aos nossos lugares. Após sentarmos, o policial se justificou:
- Como ninguém reclamou, eu não fui até ele.
- Eu entendo. Obrigado. Mas fiquei indignado. Um monte de gente com seus fones e só ele com sua música alta... – respondi.
E uma moça do banco ao lado, completa, rindo:
- E nem é funk...

É complicado viver em um país onde as pessoas tratam o público como se fosse o privado. E é o desrespeito cotidiano a coisas pequenas como essa que faz com que as mudanças que devem ocorrer em nosso país sejam tão difíceis de acontecer.

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