Deixamos Curitiba no ônibus das 13h. Linha Curitiba-São
Paulo em um ônibus da Viação Itapemirim. O ônibus saiu um pouco atrasado. Logo
atrás, saia o das 13h15. Pensava eu que um horário era direto e o outro era via
Rodoanel. Mas não. O das 13h também era via Rodoanel. O curioso é que o horário
seguinte, da Viação Cometa, também tem uma seguidinha: 14h e 14h15. Enfim...
Eu entrei, ajeitei minha mala e minha mochila no porta
pacotes e sentei em minha poltrona. Como demorou a chegar alguém, achei que não
viajaria ninguém ao meu lado. Mas, por último, entrou um policial. Ele se
acomodou no assento ao meu lado e, sem cerimônia, reclinou o seu banco e
descansou...
E começa a viagem... Ela prometia ser tranquila. Uns conversando com o
companheiro da poltrona ao lado. Outros ouvindo música. E outros pensando na
vida... E, como eu, admirando a paisagem e pensando na vida... Até que... Um celular... Eis que um senhorzinho no banco da frente
liga o mp3 de seu celular. As músicas? Pra quem pensou em funk, negativo. Era
sertanejo... baião... forró... Enfim, um gosto melhor... Mas parecia que eu
teria de aguentar isso por seis horas. Isso seria dureza...
Começava uma música... Ouvia na boa, conversando com um senhor
ao lado dele. Terminava a música, ele selecionava a outra. “Não, não gostei”,
deveria pensar ele, que mudava de música. E mudava de novo. E de novo. Ouvia.
Mudava. E mudava de novo. De novo. E de novo. Haja paciência. E ninguém
reclamava. Mas vi que alguns passageiros que, como eu, gostavam de estarem
sendo obrigados a acompanhar o gosto e as mudanças de gosto musical do tiozinho.
Mas ninguém abria a boca. Vi uma moça ao banheiro com seus fones de ouvido.
Pessoas que respeitavam a coletividade. Diferente daquele senhor que, além de
mal educado, era indeciso.
Com uns 40min de viagem, pedi licença ao policial e fui ao
banheiro, indignado. Mas, na volta, resolvi ir até o senhorzinho e pedir que,
ao menos, ele abaixasse o volume do seu celular. Cheguei a ele e pedi:
- O senhor poderia, pelo menos, abaixar o volume...
Eu nem terminei de falar e ele já me cortou.
- Não. Não vou desligar. Se quiser, reclame com o motorista.
Fiquei mais indignado ainda. Mas, não tinha jeito. Resolvi
ir até o motorista... Parecia coisa de criança mas, convenhamos, era melhor do
que ser obrigado a acompanhar essa música por sete horas. Quando toquei na
maçaneta, ouço:
- Espere!
Era o policial. Ele resolveu ir até o senhor e explicou:
- Senhor, há uma lei que proíbe...
O senhor nem o deixou terminar e disse:
- Pode deixar, pro senhor, eu desligo.
E ele desligou mesmo...
Sem mais, voltamos aos nossos lugares. Após sentarmos, o
policial se justificou:
- Como ninguém reclamou, eu não fui até ele.
- Eu entendo. Obrigado. Mas fiquei indignado. Um monte de
gente com seus fones e só ele com sua música alta... – respondi.
E uma moça do banco ao lado, completa, rindo:
- E nem é funk...
É complicado viver em um país onde as pessoas tratam o
público como se fosse o privado. E é o desrespeito cotidiano a coisas pequenas
como essa que faz com que as mudanças que devem ocorrer em nosso país sejam tão
difíceis de acontecer.
Nenhum comentário:
Postar um comentário