sexta-feira, 31 de outubro de 2014

O sexo e os anjos...



No ano passado fui tirar umas fotos em “Baguaçu” (Embu-Guaçu, para os não tão íntimos). Enquanto fotografava em uma esquina, passaram por mim uma garota, de mais ou menos 20 anos, e um garoto de uns sete ou oito anos. Não sei o que conversavam mas o garoto terminou uma frase com a palavra “sexo”. A garota reagiu, constrangida: 

- Você disse o quê? 
- Sexo, repetiu o garoto. 
- O que é isso? - perguntou ela sem graça... 

Não ouvi a resposta pois já desceram outra rua. Mas o constrangimento da garota era visível. 

Cada vez mais nossas crianças estão expostas ao “sexo”. Seja pela citação em programas de TV, cenas mais quentes em novelas em horários não tão próprios ou mesmo em letras apelativas de músicas de gosto duvidoso. Essa exposição excessiva acabou trazendo esse assunto à realidade das crianças muito antes do tempo em que deveria ser tratado. E, a julgar pelo mundo que nós vivemos, onde até alguns pais acham “engraçadinho” crianças fazendo posições ou dizendo palavras que remetam de alguma forma ao “sexo” – o que não deixa de ser também um estimulante ao assunto – vamos ver cenas como essa cada vez mais cedo. 

Portanto, VOCÊ que é ou que quer ser pai/mãe, trate de ir começando a pensar em como tratar o assunto quando chegar a hora. Até mesmo para que possa passar o bastão para seus filhos. 

A julgar pelo girar do nosso mundo, algum dia (que não será daqui a uma década ou cem anos, mas em ALGUM DIA), ao nascer, logo no primeiro “bilu-bilu”, o neném não vai se fazer de rogado e perguntará: 

- O que é sexo? 

Aí, se vira que o filho é seu...

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

CTB-SAO: O trecho final


A saída da Serra do Cafezal é um trecho recém duplicado. Por ser mais largo, o trânsito fluiu melhor e a viagem começou a ficar mais rápida. Parecia que iríamos chegar ao Terminal Rodoviário do Tietê logo, mas com um pequeno atraso. No entanto, para quem chegou às 21h00 na última viagem, chegar por volta das 20h00 já estaria no lucro. Mas a alegria durou pouco.

Chegamos ao km 327 da Rodovia Regis Bittencourt. E lá, de novo, o trânsito empacou de novo. Não sabíamos, mas era um congestionamento enorme. Estava chovendo e isso ajudava o tráfego a ficar mais lento... No começo o pessoal não se importou muito. A maioria dos passageiros cochilava no veículo. Ônibus novo, com motor que não fazia muito barulho e bancos confortáveis e bom espaçamento. Muito bom para descanso.

Início do congestionamento, que prosseguiria por mais 23km...
O tempo foi passando e, a medida que começavam a despertar, a demora começou a deixar as pessoas inquietas. Algumas ligavam para os parentes informando que o ônibus iria atrasar... Aquela senhora que citamos algumas vezes passava o tempo jogando paciência no notebook. Era uma alternância de aplausos e um “cué, cué, cué” nas jogadas erradas. Chegava a ser engraçado... Enquanto isso, eu ficava tentando conectar a internet para saber o que ocorria... Mas, quando conseguia conexão, não achava informação alguma. Comentei no twitter de uma rádio mas a resposta veio de um blogueiro, que informou que o trânsito estava lento na rodovia por conta de obras.

Um passageira de uma poltrona ao lado, inquieta, queria saber em que lugar estávamos. Eu expliquei que estávamos em Juquitiba mas, a julgar pelo trânsito, levaríamos mais duas horas até o Tietê. Infelizmente levou bem mais tempo. Levamos quase três horas apenas para chegar ao final do congestionamento, na altura do km 306 da Rodovia Régis Bittencourt. Vi cada uma das placas que marcam a quilometragem...  Quilômetro após quilômetro, no meio da noite e em um vai-e-vem de chuva e garoa... O congestionamento foi causado por uma obra de troca de pavimento que estava ocorrendo naquele trecho. E, enquanto essa troca não for terminada, a volta para quem vem do Vale do Ribeira vai ser um teste de paciência.


Chegando ao km 306, o trânsito começou a andar... Lembrou o momento em que tiramos o tampão do ralo de uma pia quando esta está cheia d'água. O trânsito "escoou" estrada a frente e o ônibus seguiu viagem até o seu destino. Como a empresa segue via Rodoanel, não perdemos mais tempo. Nosso amigo policial desceu na Rodovia mesmo, antes do ônibus chegar ao Rodoanel. Os demais passageiros seguiram para a Rodoviária.

Por voltas das 22h50 chegamos, finalmente, ao Terminal Rodoviário do Tietê. Graças ao congestionamento, a viagem durou quase exaustantes dez horas. Mas, apesar de tudo, fechou um final de semana que, nas estradas, é sempre inesquecível.



terça-feira, 28 de outubro de 2014

CTB-SAO: Rumo à Serra...


Depois que o tio desligou o seu rádio, a viagem ficou silenciosa. O máximo que se ouvia eram as conversas entre os passageiros. Entre elas, a do próprio tio, que falava muito alto.

Dentre os passageiros, havia um senhor deficiente visual, que sentou em um dos últimos bancos do ônibus. Uma outra passageira, que não era acompanhante dele, o guiou até seu lugar na entrada. Ela sentou alguns bancos mais a frente. E, nos dois primeiros bancos do ônibus, havia uma dupla de deficientes auditivos que foram participar de uma competição em Curitiba. E, além deles, uma série de outras vidas, um cruzamento de caminhos em um mesmo ônibus, cada uma com um destino...

Represa Capivari Cachoeira: os faixas de areia denunciam o que foi perdido de água...

O sono foi chegando e acabei caindo em breves cochiladas. Acordei da última antes da parada, na altura da região da Represa Capivari Cachoeira, ainda no Paraná. A seca que ocorre no país afetou também aquela região a olhos vistos. O nível da represa diminuiu tanto que já podíamos ver muitas faixas de areia. Eram as partes antes submersas. De todas as vezes em que voltei do Paraná, nunca tinha visto situação parecida.

Mais algumas dezenas de quilômetros a frente, chegamos ao Graal Petropen, em Pariquera-Açu, no Vale do Ribeira, já dentro do Estado de São Paulo. Descemos e fizemos uma rápida refeição. É preciso coragem pra comer bem, visto os preços caríssimos do local. O senhor deficiente visual não desceu. Preferiu ficar dentro do ônibus. A senhora que o guiou ao ônibus não esqueceu-se dele e, muito atenciosa, lhe levou um lanche. Em 20 minutos, o recreio acabou. Estávamos de volta à estrada.

Um dos tuneis em construção da duplicação da Rodovia Regis Bittencourt, dentro da Serra do Cafezal

A subida da serra - O ônibus seguiu viagem cortando vários municípios. Jacupiranga, Registro, Cajati e, por fim, Miracatu. Estávamos chegando ao pé da Serra do Cafezal. A parte duplicada já estava acabando e chegávamos ao trecho de subida com duas pistas. O afunilamento tornava o trânsito mais lento. E Muitos caminhões – lentos – seguravam e dificultavam a subida da Serra.

Nesse trajeto, pudemos ver as obras de duplicação do trecho da Rodovia Régis Bittencourt dentro da Serra do Cafezal. Nesse trecho, a maioria das construções são túneis. Alguns viadutos, que interligarão esses túneis, também começam a cortar a paisagem. Vimos também vários radares e câmeras – a maioria com placas coletoras de energia solar. E outros “trancados” dentro de gaiolas, para evitar o vandalismo ou o roubo.

Um foco de queimada na Serra do Cafezal

Os radares são uma tentativa de coibir as ultrapassagens perigosas, que são constantes e que causam a maioria dos acidentes na região. Eu vi algumas dessas ultrapassagens durante a subida. São carros e motocicletas que invadiam a faixa do sentido contrário para ultrapassar a fila de veículos lentos da subida. Muita imprudência em um trecho mais do que conhecido por conta disso.

E, por fim, presenciamos também alguns focos de queimada. Aliás, mais um, já que há alguns pontos de serra devastada. Mas, ao menos esse, não era um foco muito grande. Era concentrado em uma área específica mais para o meio da Serra. A chuva que veio depois provavelmente ajudou a apagar esse fico. 

Essas queimadas são consequência da seca, reflexo do descaso do Homem para com a Natureza. E, a cada dia, pagamos por isso...



segunda-feira, 27 de outubro de 2014

CTB-SAO: O tio e seu rádio...


Deixamos Curitiba no ônibus das 13h. Linha Curitiba-São Paulo em um ônibus da Viação Itapemirim. O ônibus saiu um pouco atrasado. Logo atrás, saia o das 13h15. Pensava eu que um horário era direto e o outro era via Rodoanel. Mas não. O das 13h também era via Rodoanel. O curioso é que o horário seguinte, da Viação Cometa, também tem uma seguidinha: 14h e 14h15. Enfim...

Eu entrei, ajeitei minha mala e minha mochila no porta pacotes e sentei em minha poltrona. Como demorou a chegar alguém, achei que não viajaria ninguém ao meu lado. Mas, por último, entrou um policial. Ele se acomodou no assento ao meu lado e, sem cerimônia, reclinou o seu banco e descansou...

E começa a viagem... Ela prometia ser tranquila. Uns conversando com o companheiro da poltrona ao lado. Outros ouvindo música. E outros pensando na vida... E, como eu, admirando a paisagem e pensando na vida... Até que... Um celular... Eis que um senhorzinho no banco da frente liga o mp3 de seu celular. As músicas? Pra quem pensou em funk, negativo. Era sertanejo... baião... forró... Enfim, um gosto melhor... Mas parecia que eu teria de aguentar isso por seis horas. Isso seria dureza...

Começava uma música... Ouvia na boa, conversando com um senhor ao lado dele. Terminava a música, ele selecionava a outra. “Não, não gostei”, deveria pensar ele, que mudava de música. E mudava de novo. E de novo. Ouvia. Mudava. E mudava de novo. De novo. E de novo. Haja paciência. E ninguém reclamava. Mas vi que alguns passageiros que, como eu, gostavam de estarem sendo obrigados a acompanhar o gosto e as mudanças de gosto musical do tiozinho. Mas ninguém abria a boca. Vi uma moça ao banheiro com seus fones de ouvido. Pessoas que respeitavam a coletividade. Diferente daquele senhor que, além de mal educado, era indeciso.

Com uns 40min de viagem, pedi licença ao policial e fui ao banheiro, indignado. Mas, na volta, resolvi ir até o senhorzinho e pedir que, ao menos, ele abaixasse o volume do seu celular. Cheguei a ele e pedi:
- O senhor poderia, pelo menos, abaixar o volume...
Eu nem terminei de falar e ele já me cortou.
- Não. Não vou desligar. Se quiser, reclame com o motorista.

Fiquei mais indignado ainda. Mas, não tinha jeito. Resolvi ir até o motorista... Parecia coisa de criança mas, convenhamos, era melhor do que ser obrigado a acompanhar essa música por sete horas. Quando toquei na maçaneta, ouço:
- Espere!

Era o policial. Ele resolveu ir até o senhor e explicou:
- Senhor, há uma lei que proíbe...

O senhor nem o deixou terminar e disse:
- Pode deixar, pro senhor, eu desligo.
E ele desligou mesmo...

Sem mais, voltamos aos nossos lugares. Após sentarmos, o policial se justificou:
- Como ninguém reclamou, eu não fui até ele.
- Eu entendo. Obrigado. Mas fiquei indignado. Um monte de gente com seus fones e só ele com sua música alta... – respondi.
E uma moça do banco ao lado, completa, rindo:
- E nem é funk...

É complicado viver em um país onde as pessoas tratam o público como se fosse o privado. E é o desrespeito cotidiano a coisas pequenas como essa que faz com que as mudanças que devem ocorrer em nosso país sejam tão difíceis de acontecer.

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Momentos...

Disputa

Quando: Há algumas semanas atrás... Final da tarde...

Onde: Centro da cidade, com movimento intenso de pedestres...

O quê: Câmera em mãos, mirando no que poderia ser uma nova imagem... Quando...

Um fato: Um rapaz salta por de trás de mim e tenta agarrar minha câmera. E consegue...

Disputa: O ladrão puxa a câmera de um lado... E eu a puxo do outro...

Detalhe: O laço da câmera está enrolado em minha mão. 

Instinto de defesa: O ladrão tenta me acertar... Mas estico o braço, impedindo-o de se aproximar...

Sem pensar: Apenas queria proteger aquilo que é, por direito, MEU...

O tempo passa: Segundos que pareciam minutos, horas, dias, meses, anos eternos...

Um instante de consciência: Isso está demorando muito, pensei... 

O tempo acabou: O ladrão percebeu a demora, largou a câmera e saiu correndo, se escondendo em meio à multidão...

Fim: O instinto pode nos proteger... Mas pode também ser o marcador de nossa sentença... Consciência sempre...

(texto de novembro/2013)