terça-feira, 27 de outubro de 2009

"É um assalto!"


Acordei cedo para fazer o exame periódico. Cheguei ao local. Esperei um pouco e o médico apareceu. No entanto, houve um problema: a pessoa que deveria entregar os prontuários, atrasou. Logo, uma simples consulta, que levaria rápidos quinze minutos, levou uma hora e pouco...

Saí atrasado de lá. Mas tinha esperança de chegar a tempo na fonoaudióloga. Depois de 10 minutos no ponto, o busão chegou. O peguei me mandei. Mas, no caminho, fiz os cálculos: a consulta era 9h20, já era 9h25... Se eu chegasse às 9h55, teria de andar por cinco minutos até o consultório... Logo, 10h... A consulta termina 10h20... Esquece... Telefonei pra doutora e desmarquei... Sem muito o que fazer, resolvi aproveitar a viagem e ir até o ponto final da linha.

O ônibus que peguei para ir ao consultório era o mesmo veículo que pego pra voltar das consultas... O Apache Vip, prefixo 51423... Mesmo carro - com a tampa do painel interno na cor azul-calcinha (trash!)... Mesmo motorista... Mesma cobradora. O ponto final ficava a uns 15 minutos do ponto mais próximo ao consultório. Logo, entre a ida e a volta, o tempo não era grande... Se eu tivesse descido e feito os 20 minutos da sessão, o teria pego novamente pra voltar...

Como todo bom busólogo, logo que desci no ponto final, saquei minha máquina fotográfica da mochila. Tinha de ser rápido, pois o motorista ou o fiscal poderiam encher o saco se me vissem fotografando o veículo. Fico enrolando, procurando um ângulo legal. Atravesso a rua... Não satisfeito, volto pra calçada e coloco a câmera no bolso, esperando o melhor momento.

Enquanto isso, um senhor, baixinho, magrinho e de barba - com uma ferida embaixo do lábio -, vêm até mim. O cara, do nada, me abraça e diz: "É um assalto." Eu, aproveitando a vantagem física, dou um chega-pra-lá nele. Ele vai pra trás, rindo... Logo percebi que o sujeito estava brincando... Ele começa a falar... um monte de coisas... Quando passa o motorista de outra linha, que faz ponto final por ali, ele brinca com o cara chamando-o por um apelido. Brinca com a dona da banca, uma senhora oriental já com certa idade... E tagarelava comigo e com o mundo... E eu, pacientemente, o ouvia, esperando uma oportunidade pra tirar a foto. Ele era uma figura...

Em dado momento, passa um homem, literalmente, puxando um senhor. O Figura - o chamarei assim - cumprimenta o senhor, mas este quase não consegue estender o mão, já que o homem o puxava sem respeitar os limites dele. Logo o homem parou. Então, com muito custo o senhor estendeu a mão para o Figura. Em seguida, o homem e o senhor seguem até um banco, que fica no meio da praça. O Figura logo diz: "Aquele homem está se aproveitando daquele senhor... Ele só quer o dinheiro dele."

E, convenhamos, era o que parecia mesmo. De longe, eu notava algo esquisito na relação entre os dois. O Figura resolveu ir até onde eles estavam pra puxar um papo, tentando descobrir se sua teoria era verdadeira. Eu aproveitei a deixa e tirei a foto do 5 1423. Consegui tirar duas ainda, uma de cada lado.

O Figura voltou da sua sondagem e me disse: "Aquele homem é filho daquele senhor. Só está andando com aquele senhor pra poder pegar o dinheiro dele". Picaretagem... A olhos vistos percebe-se que o cara não tá nem aí pro pai... Filho de chocadeira...

Mas nosso amigo Figura, revoltado, vai de novo até o homem tirar satisfação. Instantes depois, o motorista e a cobradora entram pela porta de trás e liberam a da frente. Vamos começar a viagem de volta... Antes que eu subisse no ônibus, o Figura aparece dizendo: "Disse a ele que se continuasse a se aproveitar de seu pai, o denunciaria à polícia". Olhei para a praça e o homem já estava longe, arrastando o seu pai...

Eu aceno, me despedindo do Figura, o animado cidadão que não falava um português nem um pouco parecido com o que eu usei para reproduzir suas falas... Ele acenou de volta... Eu fazia meu caminho de volta e ele, com ingenuidade e inocência, seguiu seu caminho falando e marcando seu espaço na vida de outras pessoas...

domingo, 4 de outubro de 2009

ENEM...

A tentativa de venda da prova do ENEM ao "Estadão", a meu ver, também serviu para mostrar uma outra face de nossa falência educacional.

O "elemento" sequer teve a capacidade de raciocinar o que um jornal tão importante faria com tal prova... Não lhe passou pela cabeça que nenhum jornal do mundo pagaria para ter aquela prova. Nenhum jornal, mesmo que de graça, publicaria aquele conteúdo como "furo". Ou seja, ele não foi capaz de pesar a relevância e a importância daquilo que estava consigo.

Quantos de nossos jovens conseguem relativizar a importância das coisas? Será que nosso sistema educacional também não está falhando nisso?