Em novembro de 2011 estive em Mauá, município da Grande São
Paulo. Nesse dia, fiz uma viagem em um ônibus articulado da linha Zaíra 4,
da Leblon, antiga operadora da cidade.
Nessa viagem, no banco duplo do lado direito
do carro, estava sentada havia uma garota muito bonita. Era jovem, aparentava ter seus
25 anos. Ela estava sentada no banco do corredor. Eu estava do lado oposto ao
dela, em um banco simples do lado esquerdo – aliás, como nos bancos dos
articulados paranaenses, do lado esquerdo há somente bancos simples.
No meio do caminho, subiu um senhor. Ele passou pela catraca e
se sentou ao lado da moça, no banco da janela. Do nada, ele começou a conversar
com ela. Era o tipo de pessoa que quando falava, se ouvia longe... Perguntou o
nome da moça. Ela, ao contrário, falava tão baixo que nem dava pra escutar.
- Aline! Bonito nome! – respondeu o “Tio”, que continuava –
Tem uma música francesa com esse nome. “Aline”.
E ele foi seguindo com sua cantada, repleta de palavras
bonitas e tal. Do banco solitário do outro lado esquedo do eu só ouvia e me
segurava para não rir da investida dele.
Durante o trajeto, subiram dois amigos. Estes estavam
empolgados, discutindo a política nacional. Ao passar a catraca, eles se sentaram
no banco a frente do “Tio” e da Aline. E continuaram a debater a política
nacional... Foi aquele festival de opiniões, a maioria delas repleta de chavões. E eu só
ouvia... Logo, o “Tio” “amigo” da Aline entrou no meio da conversa dos dois.
Durante o papo, um dos “amigos” disse:
- Esse país é maravilhoso. Aqui plantando, tudo dá. Pode-se
desperdiçar o quanto quiser que sempre vai ter mais.
Ah, aí eu não aguentei e retruquei:
- Não é assim não. É exatamente por termos tudo que temos de
economizar. Essa mentalidade de que temos de gastar tudo o que temos é um dos
motivos de nossas mazelas. Se queremos mudar algo por aqui, temos de começar
mudando essa cultura do desperdício. Mudando essa mentalidade aqui embaixo,
mudamos lá em cima. O que está lá em cima é reflexo do que há aqui embaixo.
Ah, o Tiozinho ficou maluco e começou a discutir com o “Tio”
e com o outro “amigo” essa minha idéia. E enquanto eles discutiam, a Aline
voltou-se pra mim e disse:
- Concordo com você. Se queremos mudar o país, temos de
começar aqui embaixo mesmo.
Ah, depois desse apoio, não discuti mais nada com mais
ninguém. Deixei os três “Tios” discutindo suas opiniões e a viagem foi seguiu.
Chegando ao terminal Central de Mauá, o “Tio” “amigo” da
Aline ainda tentou pegar o telefone da moça. Mas sem sucesso. Ela desceu do
ônibus e se misturou entre a multidão. Enquanto isso, os três “Tios”
continuaram discutindo as suas conclusões a respeito dos problemas brasileiros
– que, espero eu, não sejam levados a sério por ninguém.