Em dezembro passado fiz uma viagem ao interior do Paraná. Fui à Manoel Ribas mas, como não tem linha direta para aquela cidade, tive de pegar uma até Ivaiporã. De lá, peguei outro ônibus para Manoel Ribas.
Parti de São Paulo às 20h30. Cheguei em Ivaiporã às 6h30 da manhã seguinte. Estava quebrado... Desde a última parada para lanche, foram quase três horas sentado em um banco quebrado. Eu queria ficar sentado. Mas o banco queria que eu deitasse. Por mais que tentasse ajustar, ele sempre reclinava pra trás. Como o ônibus estava lotado não dava nem pra trocar de banco. Só depois que mais da metade do ônibus desembarcou em Apucarana foi que consegui mudar para um banco melhor... Mais aí faltavam menos de duas horas para o fim da viagem...
Tentei dormir mas não consegui. Só cochilei um pouco... Mas, quando começou a amanhecer, eu não consegui mais... No interior o amanhecer é muito bonito. Encantador... Foi um estimulante para o dia que se seguiria.
Chegando em Ivaiporã, desci do ônibus. Ar puro e uma manhã fresquinha. A própria cidade estava acordando. Poucas pessoas eram vistas. O guichê da Expresso Nordeste, empresa que de ônibus que me levaria à Manoel Ribas, nem aberto estava. Na primeira baia da pequena Rodoviária estava um CMA Scania detonado. Tinha adesivos da Secretaria de Saúde de Ivaiporã. Mas tenho lá minhas dúvidas se ele realmente prestava serviço pra essa autarquia, tal o estado deplorável de conservação em que se encontrava. O motorista estava consertando ele. E acelerava... E acelerava... E acelerava... Mas o ônibus não saia do lugar. Sempre ajustando alguma coisa. Dava a impressão de que o ônibus jamais sairia do lugar.
Deixei o busão pra lá e fui ai banheiro. Na porta, uma senhora idosa e de cabelos grisálios, sentada, cobrava R$ 0,75 pelo seu uso. Mas não tinha nenhuma caixa registradora. Era na sacolinha mesmo. Aparentemente era ela quem cuidava da limpeza do local. E cuidava bem. banheiro limpo, com papel e tudo. Paguei. Usei. E saí.
Eram 6h45 quando o guichê da Expresso abriu. Fui lá. Comprei a passagem para Manoel Ribas. Foi rápido, nem fila tinha. Voltei para a baia. Outras linhas foram chegando e seus passageiros desciam e sumiam cidade afora. Mas, ao mesmo tempo, outros chegavam. Pelo que vi, para Manoel Ribas, só iam mais dois além de mim: um senhor, carregando algumas ferramentas e uma senhora.
Às 6h55 chega o micrinho que nos levará à cidade vizinha de Ivaiporã. Micrinho novo e limpo. Meus dois colegas de viagem entram no micro. Eu fico mais um pouco do lado de fora, enquanto o motorista não dá sinal de que vai partir. Um quarto passageiro tentou entrar no ônibus. Mas ele estava completamente bêbado... E sua calça estava completamente molhada. Ele queria embarcar para Pitanga, destino final do micro. O motorista olhou para o sujeito de cima a baixo e disse: "O senhor não vai entrar neste ônibus assim. Volte pra casa e se troque." Foi hilária a cena do bêbado tentando retrucar mas sem conseguir se expressar direito. Logo ele deixa o local... E sabe-se lá pra onde.
Depois desta cena, reparei que o CMA Flecha não estava mais na primeira baia. Eu nem o tinha visto sair. Provavelmente saiu quando eu tinha ido ao banheiro. Mas logo ouço seu potente motor e ele aparece, descendo a toda a rua lateral à Rodoviária. Pra um ônibus que parecia acabado, ele até que estava correndo bem. Fiquei feliz de vê-lo a toda. Me lembrou um cavalo branco correndo pelas ruas. Um ônibus que marcou época e é simbolo de ônibus rodoviário não podia ser visto em outra situação.
Foi a última cena que vi na Rodoviária de Ivaiporã naquela manhã. Logo o motorista dá sinal de que vai partir. Adentro o micro que, logo inicia a viagem rumo à Manoel Ribas.